Não é segredo que as prefeituras de Parauapebas, Canaã dos Carajás e Marabá são riquíssimas, ostentam arrecadação que supera R$ 1 bilhão e estão, de longe, entre as pessoas (jurídicas) mais ricas do Pará. Mas elas — titulares de pessoas jurídicas de direito público — não têm o contracheque maior que o de uma pessoa jurídica privada. É ela, a mineradora multinacional Vale.
Em apenas quatro meses, a Vale faturou 22 vezes e meia mais que a soma das três prefeituras mais endinheiradas do sudeste do estado. As informações foram levantadas com exclusividade pelo Blog do Zé Dudu, que calculou a quantidade de dinheiro que já passou pelas mãos das quatro no primeiro quadrimestre deste ano, a partir de informações oficiais da Agência Nacional de Mineração (ANM) e das próprias prefeituras, por meio das declarações, sem ajuste contábil, no portal da transparência.
A mineradora Vale, sozinha, registrou no “contracheque” emitido pela ANM um movimento de impressionantes R$ 37,59 bilhões em apenas quatro meses nos municípios de Parauapebas, Canaã e Marabá. Essa megaoperação financeira é derivada da extração dos minérios de ferro e cobre. Só para comparar, nem o governador Helder Barbalho tem orçamento desse tamanho para tomar conta durante 2021. A expectativa de receita bruta do Governo do Pará para os 12 meses deste ano é de R$ 32,17 bilhões.
E mais: esse valor de apenas quatro meses da Vale nos três municípios paraenses é mais que o dobro do faturamento dela durante todo o ano de 2020 no estado de Minas Gerais, seu berço. Segundo dados da ANM, a Vale garimpou por lá, no ano passado, “só” R$ 16,8 bilhões, uma merreca se comparado ao que a empresa retira do subsolo paraense.
Enquanto isso, as prefeituras de Parauapebas, Canaã dos Carajás e Marabá juntas receberam, nos últimos quatro meses, R$ 1,67 bilhão em receita bruta de todas as fontes, inclusive royalties que são pagos pela própria Vale aos governos locais para compensar a exploração mineral que ela faz diuturnamente na região.
Parauapebas
A Prefeitura de Parauapebas acumulou em quatro meses R$ 855,61 milhões em receita corrente bruta, o equivalente a 45,75% do esperado para o ano inteiro. A Vale, entretanto, faturou dentro de Parauapebas no mesmo período R$ 20,02 bilhões, ou seja, 23,4 vezes mais que a administração de Darci Lermen, que é a segunda mais rica do Pará e subiu mais umas posições no ranking nacional de 2021, tornando-se a 35ª mais endinheirada do país.
Canaã dos Carajás
Em apenas um quadrimestre, a Prefeitura de Canaã dos Carajás embolsou R$ 446,45 milhões, 43,73% do esperado para todo o ano de 2021. Mas o governo de Josemira Gadelha — que se tornou o 3º mais rico do Pará entre os municípios, atrás somente de Belém e Parauapebas — parece criança perto do faturamento de R$ 15,27 bilhões da Vale na Terra Prometida, que é 34,2 vezes maior que o da administração local.
Marabá
De janeiro a abril, a Prefeitura de Marabá acumulou R$ 368,22 milhões em receita corrente bruta, o equivalente a 35,91% do esperado para os 12 meses deste ano. Todavia, a Vale faturou do município no mesmo período R$ 2,3 bilhões, isto é, 6,2 vezes mais que o dinheiro administrado por Tião Miranda. Marabá, de onde a Vale retira cobre, não tem a robustez mineral que seu filho (Parauapebas) e seu neto (Canaã), de onde a empresa retira ferro.
VALORES BRUTOS DOS CONTRACHEQUES
Produção da Vale no 1º quadrimestre de 2021: R$ 37.591.610.279,64
Receita bruta das 3 prefeituras no 1º quadrimestre: R$ 1.670.279.596,81
PARAUAPEBAS
Produção da Vale (1º quad.): R$ 20.018.041.911,01
Receita bruta local (1º quad.): R$ 855.613.022,02
Receita líquida local (1º quad.): R$ 814.263.428,63
MARABÁ
Produção da Vale (1º quad.): R$ 2.298.907.463,18
Receita bruta local (1º quad.): R$ 368.217.186,02
Receita líquida local (1º quad.): R$ 358.966.891,21
CANAÃ DOS CARAJÁS
Produção da Vale (1º quad.): R$ 15.274.660.905,45
Receita bruta local (1º quad.): R$ 446.449.388,77
Receita líquida local (1º quad.): R$ 432.090.463,03