Voz ao leitor

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O plágio como regra: uma breve reflexão sobre os rumos da educação
Por Nilvan Oliveira*

Certa vez vi escrito em algum lugar a seguinte frase (da qual, sinceramente, não sei ao certo o nome do autor, mas sei que é um industrial dos Estados Unidos) que dizia: “Não precisamos de pensadores; uma nação, para crescer, precisa é de operários”. Como é uma prática incrustada no inconsciente coletivo de quem é de um país em desenvolvimento, copiamos os norte-americanos até nisso.

Embrutecemos nossas crianças desde sua mais tenra idade, quando as condicionamos a não terem o mínimo de disciplina e deixamos a coisa correr frouxa. Elas fazem tudo ao mesmo tempo e impõem suas próprias regras aos primeiros que as desafiam: os pais. Nisso, começam a formação de suas personalidades sem conhecer limites. Para ilustrar, registro o trecho de um comentário de Alexandre Garcia, na edição do dia 26 de agosto de 2011 do Bom Dia Brasil (Rede Globo):

“Não custa repetir que, sem educação, não há salvação. Essa pesquisa foi feita com um nome comprido: “Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização”. Essa prova foi aplicada em 2011 a quem concluiu o 3º ano do Fundamental. Ao todo, 6 mil crianças em 50 escolas públicas e privadas. As privadas, tiveram resultado bem acima das escolas públicas.

No total, descobriu-se que 44% dos alunos não aprenderam a ler e 57% não sabem fazer operações aritméticas básicas, como somar e diminuir. Aí, eu pergunto: Que escola é essa, onde o aluno chega ao 3º ano e não sabe ler? Não sabe somar e diminuir? Será a escola em que se passa de ano sem o saudável desafio de uma prova? Sem que haja obrigação de estudar e de ensinar? Sem que se avaliem professores e alunos? Sem o aprendizado de que a vida, que vem pela frente, vai testá-lo, sim, no emprego e na profissão?
Fica difícil acreditar que o Brasil seja o país do futuro, se não se basear na absoluta prioridade à educação. Olhe só: Um menino sul-coreano estuda 12 horas por dia, entre a escola e o lar. E aqui?”

Só para acrescentar mais algumas informações, das 100 escolas com melhores resultados no último ENEM, apenas 13 são instituições públicas (e nenhuma delas municipal ou estadual, mas colégios militares, institutos federais, etc.).

Voltando ao raciocínio inicial desta breve reflexão, recorro novamente ao assunto disciplina. Quando falamos em “jeitinho brasileiro”, estamos nos referindo a práticas como a procrastinação, em que tudo pode ficar pra depois. O trabalho da escola está incluído nesse rol. Não temos uma comunidade de leitores; temos resultados pífios nos exames da OCDE. O governo federal multiplica escolas técnicas pelo país porque, no nosso imediatismo, queremos ganhar dinheiro, produzir operários em larga escala (como no Admirável Mundo Novo, de Huxley) que extraiam a matéria prima e a vendam a preços baixíssimos, para depois comprarem bens de valor agregado pelos olhos das caras de todas as gerações vindouras. Assim giramos a roda da fortuna e inflamos as bolhas do capitalismo. Quem precisa de pesquisadores? O MEC afirma que o brasileiro lê, em média, 1,8 livro por ano. E mais: apenas 25% sabe o que está lendo e consegue entender, interpretar. Os 75% restantes, bocejam diante das primeiras páginas de revistas em quadrinhos, escravizados pelo ímpeto de saber qual a nova comédia made in U.S.A. está em cartaz no cinema do shopping center; reinventam as palavras, criam e reproduzem neologismos monossilábicos que evitem o cansaço de digitar uma palavra inteira numa conversa pelo MSN.

O que esperar de estudantes, de todos os níveis, eletrizados pela enxurrada de impulsos high tech’s que os seduzem e os hipnotizam, dispersando sua atenção, criando um ambiente de esquizofrenia alucinante, onde tudo é fast, onde tudo é big, onde só é relevante a nova edição do Big Brother?

O que se vê são plagiadores que, desde cedo, aprendem a oração do “São Ctrl-C, São Ctrl-V”. E nesta síndrome global em que todos precisam ser os melhores (pelo menos aparentar, a qualquer preço), não precisa ir muito longe, para perceber (quase aliviado!), que a prática inescrupulosa do plágio, da apropriação do conhecimento alheio, está presente nas mais blindadas esferas do poder (e não é uma prática de brasileiros, apenas)… basta um clique no link abaixo:

http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/internacional/2011/05/10/vice-presidente-do-parlamento-europeu-e-acusada-de-plagio-na-tese-de-doutorado.jhtm

*Nilvan Oliveira é comunicador. Apresenta os programas “Fala, Cidade!”, na Liderança FM e “Liderança Notícias”, na Rede TV! Parauapebas.

6 comentários em “Voz ao leitor

  1. Senna Responder

    Parafraseando Paulo Freire: se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela jamais a sociedade mudará. Minha crença é a lição do mestre.

  2. Nilvan Oliveira Responder

    Caríssimo Senna, você expôs um relatório fiel de como vem sendo tratada a educação em nosso país-estado-município. Primeiro, um país que só direciona 5% de seu PIB para a educação e desse montante, no mínimo 2% é desviado; depois, a formação deficitária de professores, salários com valores vergonhosos (as melhores mentes são atraídas por qualquer outra área, menos para a da educação); por fim, eu diria que a retórica de palanque permeia as políticas públicas, não há governante que seja motivado a aplicar esforços e investimentos em uma área que só dá retorno a longo prazo. O cidadão é alijado, excluído, tem saqueada a única esperança de ser livre, que é pelo conhecimento. Quanto ao comentário do anônimo, não nos surpreendamos, todos eles são artistas…mestres na arte do palavrório barato. Mas o IDEB mostra alguns números positivos sobre o Pebas.

  3. Parauapebas Junior Responder

    Sr. Senna, o Sr. deve ser um dos integrantes das “zelite” para falar assim da educação, temos um documento registrado em cartório, confirmando que a educação, e não só a educação, no Brasil é de primeiro mundo, ou até melhor, então para que tentar melhorar o que já é o melhor que existe? A saúde então, beira a perfeição. Temos os melhores aeroportos, as melhores rodovias e ferrovias do mundo, o país é administrado por pessoas competentes e honestas. Não concorda? ora, mas está tudo registrado em cartório, pelo maior presidente destepaís, desde Pero vaz de Caminha, tão bom que até se meteu a resolver os problemas do Irã, de Honduras e do Oriente médio,e até ao Obama ele deu lições de como administrar um país, faz sentido, já que aqui tudo é perfeito. E esse negócio de ficar criticando, exigindo melhoras só pode ser coisa da turma do contra, essa gente que não perdoa um analfabeto ter chegado ao poder, e mais ainda não aceitam a ideia de que estudar é inútil, ele nunca precisou ler um livro ou escrever um texto maior que trés frases, (com 27 erros gramaticais) e no entanto ficou por um triz de ser presidente do mundo. Então me responda Sr. Senna para que se preocupar com a educação?

  4. Nome (obrigatório) Responder

    O prefeito falou a pouco no canal 40 que a educação de Parauapebas é uma maravilha, ele diz que com essas escolas estilo caixões alugadas para dar um troco para algum cupinxa vai formar cidadões de bem.
    Sr. demagogia esse prefeitinho mela c…..!!!

    Eta finge que tem educação e o povo bobinho acredita!!!!

  5. Senna Responder

    Não me refiro ao plágio que é um crime. Refiro-me ao descaso para com a educação, que também pode ser considerado um crime.
    Está claro que a educação vai mal. Está claro que nossas escolas precisam melhorar e muito. Debite-se isso a infra-estrutura das escolas que administramos. Aqui em Paruapebas, não é diferente.
    No caso da escola Gen. Euclydes Figueiredo, por exemplo, não entendo como uma escola considerada padrão, a mais antiga do Município, a mais tradicional, não ter um prédio próprio, isso faz com que nossos estudantes não tenham acesso a laboratórios de informática, laboratório multidisciplinar, biblioteca e outros espaços educativos, além de que grande parte dos estudantes faz Educação Física no sol quente (no CEUP) – funcionamos por obra e graça da SEMED; eu considero isso um descaso; assim que assumi a gestão da escola encaminhei relatório/solicitação sobre estas condições para todas a instâncias de governo possíveis.
    Se não tomarmos providências, em última análise, recai sobre nós, gestores, a culpa pelo descaso; depois ninguém vai querer saber se o governo ou seja lá quem for, não atendeu nossas reivindicações, seremos sumariamente chamados de incompetentes…
    Solidarizo-me neste espaço, mesmo já tendo feito por telefone, com o professor Fábio Pavão considerando a reportagem sobre a Escola “Carlos Henrique” que ele dirige, como a pior do Pará. Não concordo com a classificação! Pois conheço o Fábio, sei do seu empenho e competência. Isso reforça que uma manifestação unificada – de todos os gestores – junto ao governo do Estado/junto às forças políticas, se faça; a 4ª URE tem feito o que é possível dentro da sua competência, mas não tem condições políticas de alavancar estas reivindicações, isso já ficou claro.
    Nós, gestores de escolas públicas estaduais de Paruapebas, estamos fazendo nossa parte: estamos nos reunindo semanalmente para encontrar meios e estratégias para melhorar nossas escolas, mas sem a infra-estrutura de pessoal e equipamentos necessário fica muito mais difícil. Estamos no meio do 3º bimestre e até hoje, tem sido muito pouco o atendimento das nossas solicitações em relação a servidores de apoio administrativo e de serviços gerais, ainda faltam professores em nossas escolas em disciplinas como Física, filosofia e Sociologia. Ficamos mendigando para sermos atendidos no mínimo para uma escola funcionar… É uma vergonha!
    Nossa escola, o Euclydes Figueiredo, está se movimentando; já houve manifestação dos estudantes que foram à Câmara de Vereadores, já houve manifestação de pais que foram até o Secretário Raimundo Neto, e se nada for feito até o final deste mês, uma Comissão de pais, estudantes e professores estuda a possibilidade de ir a Belém pedir providências. Se não for assim, ficamos empurrando com a barriga o problema; no final do ano, o estudante não tem nota, aí entra a velha estratégia – que eu não concordo – faz um trabalho, faz isso, faz aquilo, e para não prejudicar o estudante dá nota de progressão; na verdade, dessa forma, estamos mesmo prejudicando o estudante que nada aprende, depois se vê o resultado ENEM no Estado do Pará… Isso é indignante e vergonhoso! Sinto-me diminuído na minha consciência de educador responsável e lutador por uma educação de qualidade.
    Nós, todos nós, estamos no limite; não cabe virar a costa para o problema, dizendo que nada vai fazer ou não se pode fazer e a Escola ficar largada, isso é cumplicidade e desídia; tenho certeza, nós, educadores não somos irresponsáveis, nem incompetentes, nem desidiosos.
    Mas do jeito que está não dá pra continuar. Ontem foi o Fábio, amanhã poderá ser eu ou outro colega… A notícia de ontem pra todo o Pará e fora do Pará, ganha comentários diversos, a SEDUC se preocupa, mas as autoridades tomarão as providências com a urgência necessária?
    Prof. Sena – Diretor da EEEM “Gen. Euclydes Figueiredo” – Parauapebas.

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