Brasília – O engenheiro agrônomo e ex-Presidente do Incra, Xico Graziano, cotado para assumir o Ministério do Meio Ambiente em substituição ao polêmico Ricardo Salles, garante que os pecuaristas brasileiros produzem mais em área menor. “Uso da tecnologia poderá levar Brasil a aumentar em 8 vezes a produção de carne”, garante.
Segundo análise de Graziano, consultor em organização, marketing de agronegócios e sustentabilidade e sócio-diretor da OIA/Certificação socioambiental e também diretor executivo do site Observador Político/iFHC, “o Brasil passou a liderar o mercado mundial de carne bovina. Ultrapassou a soma das exportações dos Estados Unidos e da Austrália. Conseguiu essa proeza reduzindo — vou repetir, reduzindo — sua área com pastagens. A mágica se chama produtividade”, segundo ele.
“Tabulação de dados da Consultoria Athenagro em matéria publicada no Blog do Zé Dudu mostra que, nos últimos 30 anos, houve uma redução de 30 milhões de hectares na área de pastagens no país. No mesmo período, a produção de carne por hectare aumentou 170%. É sensacional”, comemora o especialista.
Xico Graziano diz: “Como se tornou possível tal façanha? Investindo em tecnologia agropecuária”, destacando-se as seguintes:
- Recuperação de pastagens degradadas, principalmente no Centro-Oeste, através da aplicação de calcário (para corrigir a acidez do solo), de gradeação do solo e combate às ervas invasoras, replantio de gramíneas com adubação, química e orgânica. Mudou o paradigma: pastagens passaram a ser tratadas como áreas de lavouras.
- Manejo do rebanho em pastos menores, subdivididos das extensas invernadas, realizando a rotação intensa das áreas de produção.
- Melhoria genética do rebanho (promovida com touros selecionados e inseminação artificial da vacada), trazendo ganhos de peso e precocidade. O choque de raças entre o gado zebuíno e europeu acrescentou vigor híbrido aos descendentes.
- Alimentação suplementar no cocho, com sal proteinado e rações balanceadas, mantendo o rebanho nutrido e garantindo boa desmama de bezerros.
- Cuidados zootécnicos e veterinários, no controle de parasitas e doenças de ruminantes, incluindo preceitos do bem-estar animal.
- Confinamento e semi-confinamento, para realizar mais rapidamente a terminação do gado para abate. Antes um boi era abatido aos 4 anos, agora vai para o frigorífico entre 18 a 24 meses, e a carne é mais macia.
Esse conjunto de tecnologias promoveu a intensificação tecnológica da pecuária nacional. Na última década, com praticamente o mesmo tamanho do rebanho, a produção de carne aumentou 20%. E as pastagens diminuíram em 8,4%, liberando 14,8 milhões de hectares para a produção de grãos ou para a recuperação florestal da Amazônia.
Sem ameaça à segurança alimentar interna. As exportações de carne bovina, em 2019, representaram 23% do abate total. Considerando apenas os maiores frigoríficos, credenciados pelo SIF, o volume atinge 40%.
Segundo o engenheiro agrônomo Maurício Palma Nogueira, estamos ainda no começo de uma revolução produtiva. A produtividade média detectada no “rally da pecuária”, por ele coordenado, está em 67,5 quilos de carne/hectare/ano. Os pecuaristas do topo da tecnologia, que formam 10% do total da amostra, produzem 540 quilos/ha/ano.
“Resumo da história: Sem aumentar as pastagens nem derrubar nenhuma árvore, a produção de carne bovina brasileira poderá crescer 8 vezes apenas pelo efeito da tecnologia”, disse o ex-Presidente do Incra.
“Quando você escutar que a nossa pecuária está destruindo a Amazônia, lembre-se dessas informações. Recorte aquele gráfico acima e mostre-o aos seus interlocutores”, orientou. “Faça da boa informação uma arma contra os agromitos”, concluiu.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.