No dia 12 de janeiro, comemora-se o aniversário de Belém. Contudo esta data deveria marcar a dominação da Amazônia. De Belém, fundada em 1616, partiu-se para a conquista da Amazônia em nome da Coroa Portuguesa. Após estabelecerem-se em Belém, os portugueses expulsaram os ingleses, franceses, holandeses e espanhóis da região, para depois dominar os próprios habitantes da terra. À força, criaram uma falsa unidade de povos e culturas em torno da bandeira lusitana.
A missão de Pedro Teixeira foi explorar o rio Amazonas até à linha divisória do Tratado de Tordesilhas, onde ficavam as possessões espanholas. Teixeira foi o descobridor do rio Tapajós e fundador da Aldeia de mesmo nome. Mas foi o Tenente General Pedro da Costa Favella quem, em nome da corte, matou e escravizou os índios da região.
A guerra de dominação desencadeada por este militar foi cruel e fez muitas vítimas. Tal episódio está descrito por Antonio Baena da seguinte forma*:“Novamente os avista em pinhas compactas, que o fulminaõ com chuva de frechas; subito inflammado arroja-se a elles como homem de fevera; ensopa a terra com o sangue de sete centos Selvagens mortos; aprisiona quatro centos; faz baquear trezentas Aldeas envoltas em tubilhoens de labaredas; e assim decide o certame, e volta com a alegria fulgurante da victoria nos fins de Março (1665) para a Cidade; onde moradores applaudem a expedição pelos nobres extremos, e tributaõ ao seu Chefe os mais vivos sinaes de reconhecimento porque venturosamente tirou de uma vez toda a occasiaõ de temor a quantos quizeram entranhar-se naquellas matas.” (1969: 89)
O episódio descrito por Baena permite deduzir que a região do Tapajós era populosa e habitada muito antes do descobrimento do Brasil e da presença dos portugueses, dando razão às pesquisas do geólogo Gabriel Guerreiro acerca da civilização vargeira existente em toda a borda do Amazonas e de seus tributários. Os povos que habitavam aquele espaço eram diferentes dos que habitavam Belém e a costa paraense, mas pela força foram obrigados a integrar a bandeira local do Grão Pará e assim permanecem até os dias de hoje.
O Governo do Pará poderia, dada a história, a cultural e a geografia, iniciar o processo de reconhecimento de que ali no Tapajós existem traços de outra civilização e fortes indicativos que permitem a criação de uma unidade federativa.
Minha sugestão é que se componha uma comissão estadual para os festejos de 400 anos da ocupação da Amazônia, ocasião que oficialmente se proporia à Presidência da República e Congresso Nacional a reabertura do processo de criação desse tão sonhado estado do Tapajós. Acredito que assim, bem estudado e com um novo desenho, no qual se retiraria o vale do Xingu, teria grande chance de torna-se realidade.
*BAENA, Antônio Ladislau Monteiro. Compêndio das Eras da Província do Pará. Belém: UFPA, 1969.
Texto originalmente publicado no jornal O Estado do Tapajós.
3 comentários em “Zé Carlos Lima: Nos 400 anos da Amazônia, cria-se o Estado do Tapajós”
Seguindo esse raciocínio, o melhor era cada estado se tornar um país, porque cada um tem a sua cultura.
Politicagem, ele quer voto da regiao do tapajos? esse cara bateu tanto contra a separacao no plebiscito.
Quanto Blá blá blá sem lógica, se for levar em consideração esses motivos, teriamos que criar Estados em cada bairro que tem um pouco de cultura diferentes dos outros.