Marabá: “Rei do Cupu” recorre à tecnologia para escapar da vassoura de bruxa

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Ulisses Pompeu – de Marabá

Sebastião não é Felizardo apenas no sobrenome. O casamento com Maria do Socorro Martins de Souza também é responsável pela felicidade do “Rei do Cupu em Marabá”. A esposa faz parte do sucesso do empreendimento e contribui muito em todas as áreas do negócio, além de cuidar das 300 galinhas que eles têm no terreiro de casa e que contribuem – e muito – na renda familiar com venda de aves e dos ovos. O casal tem duas filhas, um neto e um genro.

A família mora em uma chácara a 5 km da Vila Sororó, a 35 km do centro da cidade. Tião revela que já chegou a produzir 80 mil quilos de polpa no ano, quando a praga da vassoura de bruxa não havia atacado seu pomar. Depois, caiu para 70 toneladas, 60, 40 e, atualmente, está produzindo 25 mil quilos por ano. “Há uma área em que ainda estamos trabalhando, colhendo, mas a maior parte abandonamos”, lamenta.

A experiência em Tomé Açu despertou, tempos depois, amizade com a equipe da Embrapa, que reconheceu o esforço do produtor em melhorar a qualidade de sua plantação. Atualmente, ele possui dois equitares da espécie BRS Carimbó, com média de 700 pés de cupuaçu. Uma parte está com quatro anos (já produz) e outra com dois anos. “Esse plantel mais novo de cupuaçuzeiro já começa a produzir, só que os primeiros frutos são eliminados para preservar o pé, por estar muito pequeno”, destaca.

No pomar antigo, quase varrido pela vassoura de bruxa, Tião adotou a orientação dos técnicos da Embrapa e tem dado certo. Ele está substituindo a copa das árvores prejudicadas, implantando um broto resistente que em dois anos estará com uma produção saudável, e seu sistema radicular estará bem formado.

As sementes que garimpou no dia de campo da Embrapa foram plantadas com adubo, mas ainda sem irrigação. Ele reconhece que a irrigação melhoraria ainda mais a produção futura, mas falta água no verão para realizar esse serviço.

Rei do cacau

Além da esposa e filha, Tião conta com a ajuda de três diaristas em sua propriedade. Ele não possui, ainda, uma câmara fria para estocar a polpa e vender uma parte na entressafra por um preço mais vantajoso. Por enquanto, ele vende o cupuaçu in natura para a Fecat, uma cooperativa de trabalhadores rurais em Marabá e, quando esta não consegue adquirir toda sua produção, outra cooperativa de Parauapebas compra os frutos. “Ainda não tenho o maquinário adequado para despolpar o cupu. Se tivesse câmara fria, a energia que chega a nossa propriedade não é suficiente para uma estrutura dessa. O jeito é vender o fruto”, lamenta.

Quem planta cupuaçu sabe que com vassoura-de-bruxa não se brinca. É que a doença dizima pomares e causa prejuízos aos produtores, significando, em média, uma perda de 70% da produção de cupuaçu do Estado do Pará.

Para salvar a plantação, a Embrapa Amazônia Oriental lançou há quatro anos a BRS Carimbó, aprovada como resistente à vassoura-de-bruxa, produz boa quantidade de frutos e serve tanto para produção de polpa quanto de sementes.

“A escolha de uma boa semente é fundamental na implantação de pomares de cupuaçu. É o primeiro passo, pois das boas sementes originam-se plantas vigorosas, que produzem boa quantidade de frutos. Além disso, há necessidade de que essas plantas sejam resistentes à vassoura-de-bruxa”, explica por e-mail o pesquisador Rafael Moyses Alves, que trabalha com cupuaçuzeiro há 20 anos e é o responsável pelo desenvolvimento da nova tecnologia.

Rafael disse explicou ainda que a BRS Carimbó se diferencia das demais por ser uma variedade cultivada, resultante de pesquisa, com características geneticamente melhoradas, a qual garante, ao mesmo tempo, ótima capacidade de produção de frutos e boa resistência à vassoura-de-bruxa.

Viva o peixe!

Tião Felizardo aprendeu que o caminho da diversificação da produção é a saída para ter uma boa renda sem depender de uma única cultura. E o pescado foi uma aposta certeira. A família tem seis tanques onde cria tambaqui e retira dali uma média de 20 a 30 mil quilos por ano. Toda sexta-feira, a partir de 6 horas, é dia de passar a malhadeira e pescar cerca de 800 quilos e enviar direto para um comprador, que distribui o pescado para os vendedores. “Mas a chuva escassa está dificultando a piscicultura, alguns peixes morrem e também sofremos com a falta de oxigênio na água. Agora, com as chuvas, o volume de água aumenta e temos mais tranquilidade”, explica.

O pesquisador explica que qualquer produtor rural pode ter acesso a exemplares da BRS Carimbó, devendo procurar a Secretaria de Agricultura de seu município para intermediar as negociações com a Embrapa.